ONDA!Água
Os termalistas dizem que o uso terapêutico da água começou quando o homem pré-histórico notou que, lavadas, as feridas saravam mais rápido. Na mais remota Antiguidade, na Caldéia, já existiam construções especiais e balneárias públicos, depois também encontráveis na Pérsia e no Egito. Em St. Moritz, na Suíça, existem encanamentos da Idade do Bronze na região das fontes naturais de águas quentes.
O banho é uma atividade que sempre foi praticada por todos os povos no decorrer da história, tanto por motivos higiênicos quanto religiosos, por prazer, e com finalidades terapêuticas. Pouco a pouco, os povos antigos foram incorporando todo um conhecimento medicinal, fazendo uso dos benefícios terapêuticos dos diferentes tipos de água, do vapor e da transpiração, bem como da utilização de ervas aromáticas para o tratamento de diversos males e também como fonte de prazer.
Os médicos gregos louvavam as virtudes dos diferentes tipos de banhos e aconselhavam o uso de óleos na água e para untar o corpo antes de a pessoa se secar, e as terapias nas termas e balneários eram acompanhadas de massagens e dietas. Em todo o Império Romano, perto de fontes e poços de águas minerais havia termas para combater as fadigas, avivar energias, curar as feridas e tratar dos males crônicos, e que eram freqüentadas com entusiasmo não só pelos nobres, mas também pelos soldados e, por fim, por todos. Muitos cidadãos ricos tinham seus banhos privados.
Originalmente, os banhos romanos consistiam em banhos de água fria e pequenas piscinas para nadar, mas a influência grega converteu-os também ao uso do banho de vapor com a finalidade de abrir os poros da pele e induzir a transpiração. Toda a capacidade tecnológica e artística dos romanos aparece na construção dos banhos, onde os artistas criaram belos mosaicos e pinturas murais e encheram os cômodos de estatuetas e fontes.
Com o Império Romano as termas expandiram-se para toda a Europa e norte da África, dando origem as cidades batizadas com prenomes ligados à água: Aix-le-Bains e Vichy na França, Wiesbaden e Baden Baden, na Alemanha, Bath, na Inglaterra. Generais, nobres e comerciantes iam com grande séqüito às termas mais afamadas, mesmo as distantes. E assim começou o turismo.
As diferentes concepções com que eram interpretadas as propriedades curativas das águas nos diversos períodos históricos, foram sendo substituídas por bases científicas assentadas nos mais rigorosos conhecimentos médicos. Nos séculos XVI e XVII, muitos dos locais adquiriram grande importância, pois vários médicos começaram a exaltar os benefícios de "tomar as águas", muito antes de começar a época das cidades-spa, ou cidades em que existia a estação de águas, nome oriundo da cidade de Spa, na Bélgica, o centro original.
Nos séculos XVIII e XIX, muita gente frequentava as estações de águas (os spas) da Europa para tomar as águas curativas dos grandes centros e banhar-se nelas. As clínicas e hotéis naturopatas e hidroterápicas atraíam clientela de todo o mundo. Depois, com o rápido desenvolvimento da medicina ortodoxa do século XX, a hidroterapia começou a perder a popularidade e, aos poucos, desapareceu do repertório do médico moderno.
Um certo preconceito, talvez pela extrema abundância e simplicidade do produto, ainda impede que grande parte da população brasileira faça da água a bebida das bebidas e um poderoso auxiliar terapêutico, deixando de desfrutar de um inigualável prazer e de muitos benefícios. Na redescoberta dos valores curativos das águas minerais, as pessoas buscam cada vez mais os locais privilegiados pela natureza para o tratamento tanto por indicação médica ou por conselho de um amigo que se curou apenas com a ingestão ou banho de alguma água.
É importante que termas e estâncias, esquecidas e abandonadas durante anos, voltem a ser recuperadas, mas agora de forma mais moderna, e que novos locais com fontes hidrominerais surjam, propiciando a formação de núcleos turísticos e a valorização dos já existentes, lembrando que várias cidades nasceram e prosperaram com a atividade hidromineral e que aos poucos foram privilegiando tão somente o turismo-comércio em detrimento do turismo-saúde.
Talvez a falsa noção de inferioridade do potencial hidromineral do interior brasileiro, possa ser procurada na miopia de nossos governantes, que parecem ignorar que esse setor sabiamente desenvolvido pode se constituir, num futuro próximo, em importante fator de fortuna para uma nação.
By Kleber Godelson
Ambientalista